2006/11/19

O Caminho Mais Fácil

Que a adopção do BIM na concepção e execução de projectos de arquitectura traz imensas vantagens sobre o CAD tradicional, ninguém duvida.

Assim como a passagem do RAD (Desenho Assistido por Rotrings) para o CAD representou uma evolução nos métodos de trabalho, também a transição para o BIM irá traduzir-se num aumento de produtividade dos gabinetes projectistas.

Teremos assim projectos executados num menor prazo, maior rigor, menos erros, mais adequados ao programa e ao cliente, no fundo, maior qualidade dos projectos.

Este acréscimo de qualidade nos projectos representa também um aumento na qualidade da arquitectura em geral, pois se é verdade que a arquitectura não se esgota no projecto, também não é menos verdade que a qualidade na prestação do serviço reflecte-se na qualidade final da obra.

Dito isto, convém desmistificar alguns conceitos que começam a surgir.

Aquele que me traz hoje ao teclado do computador é: Projectar em BIM é mais fácil do que projectar em CAD.

Nada mais errado.

Só quem nunca projectou em ambiente BIM pode fazer uma afirmação dessas. Aliás, esta “acusação” vem frequentemente de pessoas que nunca trabalharam com ferramentas BIM, ou por vezes nem sequer CAD, e que julgam que a pretensa facilidade com que se desenvolve um projecto em formato de edifício virtual é tal que o projectista perde uma parte significativa da criatividade e “arte” necessárias para um bom desempenho.

Para aqueles que, como eu, se têm aventurado neste território de fornteira do BIM em sede de projecto de arquitectura, sabem bem que existe um esforço acrescido na realização de projectos.

Esse esforço traduz-se, desde logo, na necessidade de ter conhecimentos sólidos de construção, e experiência de obra. Não é possível desenvolver um projecto no computador que ambiciona ser uma reprodução fiel da obra concluída se esse conhecimento técnico e prático não existir.

Depois, temos a capacidade de lidar com ferramentas informáticas complexas. O software BIM, que ainda se encontra numa fase “infantil”, é de uma enorme complexidade, e exige grande disciplina de uso, rapidez na execução dos comandos, conhecimentos profundos de informática.

Por fim, temos o próprio conceito de projecto, da arte de projectar. Enquanto o CAD consistia numa mera reprodução do RAD em ambiente virtual, mantendo a estrutura temporal de um projectos – programa, estudo preliminar, estudo prévio, projecto base, projectos das especialidades, projecto de execução, preparação de obra, telas finais, gestão dos edifícios – o BIM vem misturar todas estas fases, exigindo ao projectista uma visão holística do processo de fabrico de um edifício. È possível - e desejável - introduzir dados relativos à pormenorização logo nas primeiras fases, mas é também possível - e desejável - proceder a alterações de fundo em fases mais adiantadas do processo.

Este acréscimo de dificuldade é, obviamente, largamente compensado pelas vantagens que a ferramenta fornece, das quais se destacam, conforme mencionei, a rapidez, o rigor e a qualidade.

Mas este aumento no grau de complexidade da produção de projectos significa que os arquitectos terão aprender novas competências, adaptar o seu método de trabalho, se quiserem manter o que é seu de direito: a produção de arquitectura.

9 comentários:

Anónimo disse...

Bom post! No entanto queria colocar um desafio e deixar um convite.
Gostaria de conhecer a visão de um arquitecto sobre o BIM como meio de comunicação entre arquitectos e engenheiros, e a sua contribuição, nesse sentido, para o futuro. Convido-o para colocar um post sobre o assunto no smartengineering.blogspot.com, tenho bastante interesse no assunto.
cumprimentos

Miguel Krippahl disse...

António.

Aceito o desafio.

Assim que puder, irei publicar algo sobre essa relação aqui.

Anónimo disse...

Uma vez que estamos a falar do "caminho mais fácil", gostava de lançar à discussão, as várias alternativas que existem neste momento relativamente às ferramentas BIM.

A ideia é lançar análises comparativas dos diferentes softwares e aplicações que estão disponível no mercado (Archicad, ADT, Revit, Triforma, etc), mas SEM PUBLICIDADE desnecessária, de preferência, que haja "partilha" de experiências de quem trabalha ou já trabalhou com essas diferentes ferramentas.

Miguel Krippahl disse...

Rafael

Louvo-lhe a iniciativa, e assim que me disser onde está esse "forum" deixarei lá o meu contributo, e também um link no meu blog.

Entretanto, e fruto de uma longa experiência na procura de comparações isentas, tenho a apontar:

Pela complexidade das ferramentas em causa, é impossível (ou quase) encontrar especialistas em mais de uma marca. Quem usa um software 8 horas por dia 5 dias por semana acaba por amá-lo (ou odiá-lo), logo, tem sempre uma opinião apaixonada.

Não raras as vezes recusa-se sequer a aprender outro.

As pessoas com quem tenho falado que se arrogam de conhecer a fundo mais de um programa acabam por revelar-se iniciados no que não gostam e profissionais no que gostam.

De qualquer modo, como disse, estou mais que disponível em participar nessa discussão, se for séria e não se limitar a argumentos do tipo "o meu é maior do que o teu"

Anónimo disse...

Miguel, penso que não é preciso proliferar a internet com mais uma página dedicada ao tema. Esse "fórum" tá aqui mesmo ... ou não?

Podemos potenciar este espaço, fomentando o diálogo e a troca de experiências de várias pessoas que podem aki "postar" as suas postas de pescada, dando conta do seus percursos por essas andanças, etc ...

Já tou a fazer a divulgação deste blog com esse objectivo ... fiz mal? ;-)

(arq.rfernandes@gmail.com)

Miguel Krippahl disse...

Rafael

O objectivo deste Blog é o de partilhar algumas questões que me inquietam quanto ao futuro da arquitectura enquanto processo de projecto no contexto digital (esta soou bem).

Se reparar, raramente me refiro a software em concreto, ou mesmo questões comesinhas.

Aliás, para dicas sobre o Archicad tenho outro post, o www.architruques.blogspot.com , onde abordo a temática da ferramenta. É o meu software de eleição, por razões pessoais, e é por isso que partilho o que sei sobre ele.

Quanto aos comparativos que sugere, acho-os extremamente uteis, mesmo indispensáveis, principalmente para quem está a ponderar começar nestas actividades.

No entanto caiem fora do ambito do presente blog. Poderia eventualmente fazer outro dedicado à comparação concreta sobre os vários software mas:
a- Não me sinto habilitado para isso.
b- Já tenho que gerir 3 blogs.
c- Se houver um 4º, será sobre assuntos que eu domino, nomeadamente a produção de animações para arquitectura.

Em suma, e respondendo ao seu desafio:

O presente blog é sobre conceitos "filosóficos" subjacentes ao BIM, pelo que não pretendo introduzir a temática da comparação de softwares.


Louvo e apoiarei a iniciativa de ser feito um blog desses (ou um Forum, se calhar será um formato mais adequado) em português, contribuindo com tudo o que sei sobre o software que uso.

Finalmente, não acho que criar mais um blog/forum seja encher a internet de lixo desnecessário. O tema merece espaço próprio, e alguém isento que tenha tempo e conhecimento para o desenvolver.

Anónimo disse...

Miguel mesmo q não queiras esse tipo de post, eu vou insistir ... ;-)

Isso também é filosofia ... dos BIM

Acho que sempre que possível, devemos e podemos (sem delírios e devaneios, é claro) comparar sistemas e soluções, até pq é uma forma de partilharmos aki as nossas experiências e opções, quiçá esclarecermos um pouco sobre determinados aspectos q nos podem até servir para explorar este ou aquele caminho ...

Vou arriscar ...

Há já algum tempo q sinto necessidade de algo mais do q o simples cad ...

Eu cheguei a experimentar o Archicad, fiz até um "curso indirecto" (meus colegas é q fizeram o cuso e eu fui seguindo ...). Testamos o software com um projecto específico, de média dimensão, num edifício para habitação e comércio, c/ ~ 1000 m2 de implantação, 5 pisos, 2 em cave + 3. A meio do processo, O(s) ficheiro(s) já estavam tão pesados que às tantas resolvemos exportar para 2D e trabalhar à lá CAD ... Já não me lembro as dimensões dos ficheiros, mas foi árduo ... Não conseguimos, acredito que por deficiência nossa. Acabamos por tirar partido apenas de algumas imagens 3D do edifício.

Recentemente tentei de novo, com o ADT 2007 (já tinha tentado com a versão 3.3 ... uiiiiii) ... Não há dúvida que o ADT 2007 está muito melhor. Faz lembrar o Archicad em muitos aspectos ...

Actualmente, todos os paramétricos já permitem um ambiente de modelação mais apelativo. Apresentam os mesmos procedimentos de construção de paredes, portas, janelas, coberturas, etc ... todos eles parametrizáveis e editáveis.

Penso que quem trabalha com um, trabalha com todos ... é muito similar a forma de trabalhar.

Tanto no ADT como no Archicad, a actualização da documentação do projecto (Plantas, cortes, alçados, etc) ... não é automática ("live conected"), isto é, precisam de ser actualizados (update) e re-editados nas folhas sempre que o projecto é alterado ...

No Revit (a única ferramenta BIM que já me convenceu quase a 80%), as janelas/vistas do projecto que estão inseridas nas folhas finais para plotagem (todas sem excepção, desde plantas, cortes, alçados, 3D, tabelas, ect) estão "live conected" com o modelo ... estão em permanete actualização (automáticamente!), sem necessidade de updates ...

A outra grande vantagem do Revit, são os ficheiros "fininhos e levezinhos" ...

Por exemplo, um projecto de habitação unifamiliar corrente, de ~200 m2, c/ 2 pisos + 1 recuado, com toda a documentação necessária e acessória (pantas, cortes, alçados, 3D, n perspectivas interiores e exteriores, plantas temáticas, etc) chega a ter apenas 5 MB ...

Penso que a versão 10 do Archicad está mto melhorada. Não sei se essa "live conection" das vistas do modelo nas folhas já é possível ...

Miguel Krippahl disse...

Rafael

Sinceramente, não queria entrar neste tipo de discussões aqui, porque:

1- Já participei em imensas, e o resultado é sempre o mesmo. Nenhum utilizador experimentado muda de opinião sobre um software só porque outra pessoa lhe aponta as deficiências.

2- De um modo geral é uma conversa de surdos, porque, para ser especialista na marca A é-se profundo desconhecedor da marca B.

3- No fundo, é uma questão pessoal e de gostos. Porquê Pespi ou Coca, Nike ou Adidas, Mercedes ou BMW, RTP ou SIC, Sol ou Expresso, Mac ou Windows, HP ou Epson, Nokia ou Motorola, etc, etc, etc...

Quanto á minha opção:

1- Uso o Archicad, porque quando comecei a trabalhar com ele não havia nada à altura.

2- Considero o ArchiCAD o programa mais avançado BIM, com mais de 20 anos de experiêcia. Bem sei que os detractores do AC dizem que, no software, a idade de um programa é o seu inimigo, o que é um perfeito disparate: Não só é possível mudar o código base (o AC fê-lo inúmeras vezes ao longo destes 20 anos) como a acompanhamento dos clientes durante tão longo tempo permite amadurecer, e muito, esse software).

3- Nutro um ódiozinho especial pela Autodesk, por inúmeros motivos. Porque é vira-casacas, esmifrando o CAD até à ultima gota, dizendo SEMPRE mal do BIM, até não poder mais; porque apresenta-se agora inventora de um conceito que já existe há mais de 20 anos; porque tem práticas comerciais americanas; porque é monopolista, arrasando a concorrência através da sua compra, tipo Microsoft; porque não leva esta história do BIM muito a sério, tem o Revit apenas para dizer que tem um produto BIM, não investe a sério no seu desenvolvimento; porque boicota o IFC.

4- Não gosto do Revit porque: é americano, tem uma lógica americana, adequa-se mal à nossa realidade; muda de versão todos os anos; não tem tradução em português; é uma cópia, de fraca qualidade, do ArchiCAD; é mais caro, a longo prazo; é um híbrido BIM/CAD, basta ver que faz muita publicidade na ultima versão da integração dos pormenores 2D para se entender que não leva a modelação muito a sério; não é europeu, e eu acho que, pela mesma razão que devemos perferir produtos portugueses sobre estrangeiros sempre que são equivalentes, devemos também perferir europeus sobre os americanos (os americanos fazem o mesmo, e correctamente, é uma questão de saúde da economia).

Como seria de esperar, este assunto tem pano para mangas, e como disse, não cabe num blog como este.

No entanto, toca um assunto que tenho agendado para aqui:

O BIM como religião.

Pretendo abordar a questão da "paixão" pelo BIM, e pelo uso de marcas específicas. Tenho notado que, á semelhança do nosso amor pelos clubes de futebol, pela religião, pelo partido, pelo país, ou outra seita qualquer, a nossa paixão pela ferramenta BIM é geralmente inabalável e irracional. Pretendo também tentar descobrir porquê.

Finalizando:
Espero que não continue a fazer publicidade ao Revit aqui neste blog, pelas razões acima mencionadas. Acho-o um programa fraquito, "desenvolvido" por uma multinacional asquerosa, e não vou certamente mudar de ideias por causa das opiniões de alguém que conhece mal o ArchiCAD.

Como a blogosfera é livre, poderá sempre criar o seu blog publicitário. Boa sorte.

Anónimo disse...

Miguel ... li e reli os posts para ver onde publicitei o Revit em detrimento dos outros ... Acho que apenas citei os exemplos q tive, fazendo realçar pontos concretos e pertinentes no desenvolvimento actual de um projecto de arquitectura, nada mais ...

Eu vou continuar à procura do meu "nirvana" nos BIM. Que seja Archicad, ou Revit, ou o israelita Star, ou outro qualquer ... Acredita que eu já fiz BIM até com ferramentas de SIG da Esri e não me dei mal ... e mais, já tenho o dowload da versão 10 e espero testá-lo e ver o q promete ... Estou aberto às novas ferramentas. Não quero nunca correr o risco de dizer, "não provei e não gostei", por isto ou por aquilo (subjectivo).

Mike, as pessoas não podem ser julgadas pelos seus momentos menos bons ... vou relegar alguns comentários q li, do género, "Não gosto disto ou daquilo pq não está em português ou pq é americano, etc ... " (só por curiosidade, o ARchicad é português por acaso?)

enfim, passo em frente ... tentei trazer ao diálogo questões concretas, como a dimensão dos ficheiros, a forma de edição/manipulação dos objectos, modelação, vistas com ligações "conection's online" com o modelo, etc ... esperava esse tipo de feedback, de conhecedores tnto do archicad como de outros softwares ...

Só para que fique claro, não sou fã, nem "rendido" a nenhum software em específico. Sempre que possível, tenho testado e observado as diferentes plataformas e tenho tentado acompanhar as evoluções, sem opções clubísticas. Neste momento, de facto o Revit é aquele que me tem convencido mais, independentemente de tudo.

Tenho inúmeros colegas meus, utilizadores do Archicad, q me confidenciaram que com a nova versão 10, quase que tiveram de aprender um programa novo ... e tudo isso, em virtude da nova filosofia de projecto digital, incrementadopelo Revit, quer queiramos, quer não. Não foi o ADT que provocou essa dinâmica toda, de certeza ...

Se isso incomoda ao ponto de me desejares boa sorte na blogosfera ... ok, tudo bem ... vou indo ...

Acreditei ter encontrado um espaço na net, onde podesse discutir assuntos de BIM, desde a filosofia subjacente, passando pelos conceitos associados e terminando na análise e discussão dos detalhes e abordagens específicas de um ou de outra plataforma tecnológica ... afinal, enganei-me ...

boa sorte par o blog. Não chateio mais com estas quesões. Por breves instantes, tinha-me esquecido que estou em Potugal, onde tudo ou quase tudo é muito complicado e muito sensível ...