2006/08/07

O pormenor do parafuso




Tenho lido em vários textos dedicados ao BIM uma afirmação que corre o risco de se tornar consensual.

Trata-se de uma teoria que diz, grosso modo, que os pormenores desenhados 2D não irão desaparecer, uma vez que não faz sentido detalhar um modelo 3D ate ao parafuso.

Penso existirem duas razões fundamentais para fazer tal afirmação.

Primeiro, uma grande ignorância sobre a evolução da informática; em segundo lugar, um objectivo mais ou menos dissimulado de menosprezar o conceito de Edifício Virtual, continuando a promover o CAD 2D.

Quanto à ignorância:

Lembro-me de, há poucos (dois ou três) anos, ser consensual que a fotografia (e o filme) digital nunca iriam substituir a película, simplesmente porque o formato digital e os computadores nunca teriam capacidade para lidar com a quantidade maciça de informação envolvida na gravação e reprodução de imagens.

Como bem sabemos agora, este pressuposto estava totalmente errado. Os computadores e máquinas de fotografar/filmar evoluíram, adquiriram enormes capacidades de armazenamento, multiplicaram a velocidade de processamento, foram criados códigos de compressão (codecs) de filmes que permitem hoje em dia, através de equipamento digital básico e acessível, fotografar, filmar, editar e visualizar com qualidade igual ou até superior à analógica.

Os detractores do analógico ainda existem, mas estão em minoria e são uma espécie condenada à extinção.

Como tal, é perfeitamente razoável e seguro afirmar que, com a evolução dos sistemas informáticos, designadamente quanto à rapidez de processamento e capacidade de tratamento, transmissão e armazenamento de dados, dentro em breve os programas BIM serão capazes de incluir, nos modelos virtuais, detalhes 3D até ao parafuso.

Quanto à agenda de promoção do 2D:

Este propósito não é novo. Já há vinte anos existiam programas, primeiro para Mac e depois para PC, que permitem construir edifícios virtuais. No entanto apenas recentemente é que os projectistas e construtores começaram a falar a sério sobre o BIM, buzzword aliás criada pelo maior fabricante CAD que, até há 6 anos, não tinha nenhum software especificamente orientado para o Edifício Virtual.

Para mim, a explicação principal é simples e clara. Considerando que um utilizador BIM faz o trabalho de três utilizadores CAD 2D, apenas pela via da automatização da produção de desenhos, é muito mais rentável vender CAD 2d do que BIM. Vendem-se três licenças em vez de uma, ainda por cima de um programa que, apesar de custar o mesmo, faz muito menos, logo, é muito mais barato de desenvolver e testar.

Assim, embora seja muito pior para os utilizadores (arquitectos, engenheiros, desenhadores, construtores e fabricantes de materiais) continuarem a utilizar o CAD 2D, o certo é que o principal fabricante do software CAD continua a ganhar rios de dinheiro vendendo um programa que mais não é do que uma prancheta digital.

Assim, seja por ignorância ou por ganância, considero que os defensores dos pormenores 2D estão redondamente enganados.

Em breve teremos objectos que farão parte de bases de dados, desenvolvidas por fabricantes de materiais de construção, que irão até ao pormenor do parafuso.

Que é, afinal, e de acordo com aquilo que aprendi na escola, a maneira correcta de projectar arquitectura.