2007/02/24

O BIM e os renderings

A confusão entre BIM e renderings é frequente.

Principalmente para os detractores do BIM, este é normalmente apontado como sendo apenas um método de fabrico de imagens de síntese, para consumo de massas.

Essa comparação só pode ser fundamentada na ignorância.

Se há algo para o qual o BIM não é o mais indicado, será certamente para produzir imagens de síntese.

Senão vejamos.

O modelo integrado (edifício virtual) que desenvolvemos destina-se a:


Produção automática de desenhos
Como tal, há que incorporar informação gráfica bi-dimensional, por exemplo os conteúdos das paredes em planta, e informações textuais, por exemplo legendas.

Verificação térmica/acústica/solar/segurança etc
Para poder testar o nosso modelo nessas vertentes, temos que introduzir dados relevantes, como seja a inércia e resistência térmica dos materiais, peso, classe de incêndio e muitos outros.

Compatibilização das várias especialidades
Para garantir que todas as especialidades convivem no mesmo modelo, sem colidirem, temos que modelar tudo o que se vê e o que não se vê, por exemplo a estrutura resistente, as redes de águas e eléctricas, o AVAC, etc.

Quantificação. Para retirar do nosso modelo medições e orçamentos, temos que introduzir preços unitários, tipos de trabalhos, e outros.

Todas as informações acima referidas não têm qualquer utilidade para produzir renderings. As tais imagens de síntese não carecem de preços, resistência térmica, tubos de esgoto, cotas, e tantos outros dados fundamentais para o modelo BIM.

Por tudo isto, utilizar uma metodologia de modelação BIM para produzir renderings seria um disparate, uma perca de tempo.

Também por isso, reduzir o BIM à apresentação de renderings é, no mínimo, fruto de uma enorme ignorância.

Agora só para baralhar: Apesar do BIM não ser adequado para modelar com o intuito de produzir imagens de síntese, tal não significa que não possamos utilizar o modelo BIM para retirar dele imagens fotorealistas.

No fundo, embora o objectivo da arquitectura não seja dar imagens bonitas (espero), isso não significa que não possamos fotografar os edifícios.

5 comentários:

Anónimo disse...

BIM pressupõe a construção de um Modelo de Informação de Projecto.

RENDERINGS pressupõe a produção (a venda) de imagens estáticas ou dinâmicas (filmes)

BIM pressupõe a criação de um modelo digital (centralizado) de informação, a partir do qual obtemos tanto a "Informação Gráfica" (2D/3D/Animações) do projecto, como a "Informação Alfanumérica" (Textos descritivos, Mapas/Listagens de quantidades, de materiais, de componentes construtivos, etc ...)

RENDERINGS pressupõe a criação de modelos digitais mais simplificados, podendo ser vários modelos de um só projecto, e não um único modelo. Não existe nenhuma regra a estabelecer relações entre as peças ... focalizam apenas na parte gráfica do projecto, muitas vezes com tratamento e manipulação (edição gráfica), fora do ambiente dos modelos 3D gerados.

BIM trabalha a "essência" de um projecto. Pressupõe a existência de regras nas relações "físicas" estabelecidas entre os vários elementos construtivos que compõem o projecto (paredes, pavimentos, coberturas, vãos, escadas, etc)...

RENDERINGS preocupa-se apenas com a "aparência" do projecto. Se o objectivo é obter imagens exteriores, então o interior, o miolo pode não existir ... se o objectivo é obter imagens interiores, o exterior não tem muito interesse. Por isso, as relações entre elementos construtivos podem existir mas não é determinante ...

Esses dois mundos podem (e deviam) estar interligados. Cada vez faz menos sentido duplicar o trabalho na modelação dos objectos, de forma independente para os dois mundos BIM e RENDERING ...

Vejo o RENDERING como sendo uma das "especialidades" que o BIM nos pode oferecer

RF

Miguel Krippahl disse...

Viva Rafael

Parece que desta vez estamos 100% de acordo.
:)

Anónimo disse...

Sempre estivemos ;-)

São mais os aspectos que nos une em torno de BIM do que os que nos separa.

Nunca me enganei quanto a isso.

A propósito, já experimentaste o produto da concorrência? ;)

*: repara q não falei do bicho ;-)

Anónimo disse...

Arq Miguel:

Numa perspectiva de gestão empresarial o BIM parece-me o Holy Graal, quer no domínio das melhore (e mais eficientes) técnicas de execução, quer no controlo orçamental da própria obra.

Como a minha ignorância é grande em matéria de BIM gostava de contar com algum do seu tempo para trocarmos umas impressões!

Continuo a ser um leitor ávido dos seus blogs.

E já agora, há alguma empresa portuguesa a operacionalizar este conceito?

MiguelK disse...

Rafael

Eu sei :)

Não, ainda não experimentei - a minha vida profissional não está de molde a me permitir grandes experiências.

Se o ciclo anual se repetir, é provável que o último trimestre do ano seja mais calmo. Nessa altura sou capaz de experimentar. Logo veremos.