2007/10/08

Para quando o fim do papel?

Uma das promessas que o BIM nos faz é o fim do papel.

O fim do papel no sentido do projecto passar a ser uma base de dado tridimensional, em que toda a informação pertinente se encontra embebida no modelo virtual.

Na realidade, acontece algo semelhante ao que sucedeu com os processadores de texto. Todos pensávamos que o texto digital iria tornar o papel obsoleto, quando na realidade se passou a gastar muito mais papel.

Em parte, tal facto se deveu a que a maioria das pessoas estava habituada a ler textos em papel, e não ter ainda o treino de os ler no ecrã. A primeira coisa que qualquer pessoa fazia quando recebia um texto em formato digital – ou mesmo quando escrevia um no computador – era imprimi-lo, pois doutro modo não o conseguia entender.

O hiper texto mudou esta atitude, proporcionando um formato de texto muito mais rico que o analógico, logo, não passível de ser impresso sem perder propriedades. Hoje em dia são já raras as pessoas que não conseguem ler um texto no monitor de computador, ou que necessitam de o imprimir para verificar os erros.

Um bom exemplo é o e-mail. Todos temos vastos arquivos de correio electrónico, mas raramente nos damos ao trabalho de os imprimir, mesmo os mais extensos.
O que há poucos anos parecia impensável – a existência do texto em formato exclusivamente digital – tornou-se uma realidade.

Quanto aos projectos a coisa caminha na mesma direcção. Inicialmente, os desenhos CAD eram meras reproduções dos desenhos em papel, pelo que o seu objectivo último era serem impressos. Os bits queriam ser átomos.

Na euforia do advento do modelo digital, há mais de 25 anos (O termo BIM tem apenas 5 anos, mas muitos de nós já faziam BIM dezenas de anos antes de alguém se lembrar de lhes atribuir esse nome) julgou-se que os papéis iriam desaparecer.

Um pouco como nos textos, os desenhos em papel não só não desapareceram, como aumentaram exponencialmente. Ninguém aceitava ver os desenhos ou o modelo em formato digital, exigindo os desenhos plotados, e, eventualmente, uns ficheiros em CD para irem para o arquivo.

No entanto, o modelo virtual do edifício, à semelhança do hiper-texto, é muito mais rico em informação do que aquilo que acaba por ser impresso.

A frustração de quem faz deste modelo a sua base de trabalho é grande. Nunca, ninguém, em nenhuma circunstância, me pediu o modelo virtual do projecto. Continuo a ter que preparar todos os desenhos meticulosamente, plantas, cortes, alçados, pormenores construtivos, mapas de vãos, sendo que essa informação se encontra já embebida no meu modelo.

Qual será a sensação quando, um dia, um cliente meu me peça “apenas” o modelo tridimensional, prescindindo de todos os desenhos? Quanto trabalho desnecessário irei poupar? Quão mais fácil ficará a interpretação do projecto em obra?

Bem sei que esse momento não está ao virar da esquina, mas tenho esperança que, á semelhança dos textos, a mudança seja gradual e imperceptível e que, um dia, nos apercebamos que os papeis se foram.

39 comentários:

Fernando Vale disse...

Curioso, ainda há uns dias me questionei acerca da incoerencia de criar um modelo virtual em 3D e no final ter de se imprimir o 2D para outra "pessoa" o voltar a criar em 3D.

PS: eheh -> http://www.youtube.com/watch?v=odymquaLZe0

Miguel Krippahl disse...

É um pouco como a forma dos primeiros carros, que pareciam simples carroças sem cavalos (horseless carriage).
Demorou algum tempo ás pessoas para entenderem que um carro era algo completamente diferente.

P.S.: Para aqueles que pensam que eu vou lá só para me divertir...

Fernando Oliveira disse...

Bem, já entreguei projectos em suporte digital, com o DWF consigo produzir todo um projecto, com desenhos 2d, modelos 3D, imagnes, caderno de encargos e tabelas

Se quiserem posso facultar um exemplo.

Sei que alguams Camaras minucipais vão passar a solicitar apenas uma coleção em papel + um ficheiro digital de informação com todo o projecto, e ai o DWF é perfeito.

Miguel Krippahl disse...

Entregar projectos em formato digital 2D já todos fizemos, penso eu.

Mas não é essa a questão. Para entregá-los em formato digital 2D, há que prepará-los, ou seja, o trabalho é o mesmo (excepto a impressão e dobragem do papel).

O que eu me estava a referir era entregar o modelo 3D.

Sem fazer cortes, cotagens, quadros de áreas, mapas de vãos, pormenores constructivos, etc.

Esses dados seriam retirados pelo receptor do projecto directamente do modelo. Ele faría o corte onde lhe desse jeito, retiraria o mapa de vãos no formato que lhe fosse mais conveniente, e até seria ele a decidir em que formato necessitaria do mapa de medições.

Aí sim acabava-se esta duplicação estúpida de trabalho.

Fernando Oliveira disse...

Mas ai, ao enviar o modelo do teu projecto, lá voltamos às questões de propriedade intelectual e de garantias de salvaguarda de informação, era bom que esse teu sonho pudesse ser realizado, mas sabemos bem o que se passa na realidade nestas situações.

Miguel Krippahl disse...

As questões de propriedade intelectual é o que menos me preocupa.
Se quiserem copiar o mue projecto, força.

Quanto a questões de aldrabiçes (alterar o projecto e depois dizer que as alterações são da responsabilidade do projectista) isso sempre aconteceu, seja com papel, seja com desenhos digitais.

Há procedimentos simples de salvaguarda: por exemplo, o modelo 3d é entregue num DVD, assinado pelo autor (assinado físicamente). Assim, compete ao "aldrabador" provar que o modelo adulterado corresponde ao modelo entregue nesse DVD.

Na minha modesta opinião, a questão da salvaguarda de informação é empolada, sempre foi. Eu, pessoalmente, entrego os ficheiros em formato aberto e nunca tive nenhum problema com isso.

António Aguiar da Costa disse...

Os assuntos levantados são interessantes. Pessoalmente espero que o novo código da contratação pública venha dar um impulso na colaboração electrónica e necessariamente ao 3D, como formato de transmissão de informação.

Miguel Krippahl disse...

António

Como já tivemos oportunidade de discutir aqui, eu sou bastante céptico quanto á solução por via administrativa.

Basta ver o mais recente espalhanço legislativo, a aplicação do novo RCCTE e RSECE.

A partir de uma norma comunitária bem intencionada cria-se um pacote legislativo que serve, na sua grande maioria, interesses privados (desde a instalação de colectores solares obrigatória a entidades certificadoras).

A ver vamos o que acontece com o novo código da contratação pública, mas as minhas espectativas são muito baixas.

António Aguiar da Costa disse...

Compreendo o cepticismo. Pessoalmente julgo que o novo código é ambicioso e sendo bastante baseado em palataformas electrónicas, poderá estimular o desenvolvimento do BIM. Tive a oportunidade de estar presente na conferência de contratação electrónica e, na realidade, perspectiva-se uma nova forma estabelecer relações entre intervenienetes.

Por outro lado penso que o BIM começa a fazer a diferença para as grandes empresas de engenharia nacionais, que começam a ver as suas propostas desvalorizadas internacionalmente devido à pouca utilização de modelos tridimensionais.
No caso da engenharia o problema é que é complicado obter resultados do BIM, veja-se o fracasso da tentativa de implementação da Mota-Engil. Por isso me sinto tentado a depositar alguma esperança na via administrativa, talvez erradamente, mas para mim esta surge como a forma mais simples de encarar o processo como um todo.

Anónimo disse...

miguel, você está correto que menos papel estará usado em operações de BIM já em meu próprio uso que eu vi se usar usando muito menos do que com CAD, e em usar menos freqüentemente, em tamanhos menores - se uniforme em tudo. agradecimentos para o comentário em meu blog último mês. sorte boa a você. do "archicad do la viva!"

-jj nicholson

António Aguiar da Costa disse...

Miguel,

Queria deixar um desafio. Um post que tentasse penetrar no conceito BIM de forma prática.

Sempre que se fala em BIM fala-se em softwares, modelos 3D ou filosofia BIM. Mas o que é o BIM e de que forma será atingido? Passará pela existência de um formato único(IFC), softwares integrados ou por uma plataforma electrónica que englobe a cadeia de projecto e toda a sua gestão? Será compatível com a independência de cada interveniente e com o processo de licenciamento existente? De que forma ele se mostra útil a cada um dos intervenientes?

um abraço

Miguel Krippahl disse...

António

Excelente tema.

Aliás, estou neste momento a acabar de ler um livro "BIG BIM little bim" que trata exactamente da distinção entre as soluções de software (little bim) e o conceito subjavente (BIG BIM).

Assim que o acabar ( e que tiver 30 minutos) irei fazer um post sobre o assunto

MK

António Aguiar da Costa disse...

Miguel,

Pondero comprar na Amazon o livro que referiu. Qual a sua opinião sobre o livro?


Cumprimentos,

Miguel Krippahl disse...

Viva António

Vale a pena.

Não é um livro indispensável, mas lê-se bem, e tem algumas (muitas) boas ideias.

É dirigido fundamentalmente para leigos do BIM, e destina-se a marcar uma posição clara quanto á confusão BIM/Revit.

Embora nunca o digam taxativamente, percebe-se que são utilizadores ArchiCAD de longa data (o prefácio é do Kimon Onuma), com muita experiência prática, a quem esta tomada de assalto por parte da Autodesk eventualmente incomodará.

Não que o digam explíctia ou implicitamente, antes pelo contrário, têm muito cuidado em nunca comparar ferramentas, ou afirmar que esta ou aquela é melhor.

De modo que o livro está cheio de bons conselhos, de exemplos práticos, mas sem entrar no campo das ferramentas em sí, mais dos princípios gerais.

Não estou arrependido de o ter comprado, embora não tencione torná-lo parte da bibliografia das cadeiras que lecciono.

António Aguiar da Costa disse...

Miguel,


Obrigado.

Anónimo disse...

Olá a todos.
Interessante este assunto do suporte digital em modelo 3D. De facto, depois do trabalho todo termos que "involuir" para a representação 2D parece um contra senso.Quando o cliente final é representado por uma empresa promotora ou institucional com capacidade para manipular e extrair as peças desenhadas em 2D consoante as suas necessidades parece-me termos o problema resolvido... ou ainda no caso de termos de passar o modelo para uma equipa pluridisciplinar poder desenvolver trabalho complementar. Agora, quando se trata de um cliente particular ou pouco ou nada institucional, temos um problema. Em Portugal este tipo de cliente representa a grande fatia da encomenda de arquitectura, e este precisa da representação 2D para a sua execução em obra. Mais grave, se formos avaliar a capacidade do universo dos intervenientes de uma obra para "ler" desenhos, talvez não consigamos atingir 50%.

Miguel Krippahl disse...

Curiosamente, são exactamente esses empreiteiros desqualificados que beneficiam mais com o 3d, porque os ajuda a compreender o projecto.

Anónimo disse...

Caros colegas, é a primeira vez que escrevo neste blog e é logo para pedir a vossa ajuda.

A questão é a seguinte: fiz um projecto para Lisboa e agora estão a pedir-me o formato DWF das telas finais.

No sítio da CML tem até o Autodesk Design Review, para formatar os desenhos num único ficheiro, que meti num CD e entreguei.

Até aqui tudo bem, simplesmente, eu desenho à esc. 1/50 no ArchiCAD e esses desenhos, aparentemente, são "lidos" no Review como se estivessem na esc. 1/100, pelo que as medidas em planta passam para o dobro e as áreas quadruplicam.

Alguém conhece solução para isto?
Estarei a fazer algo errado na conversão?

Grato pela vossa ajuda, certo que mais tarde ou mais cedo todos os utilizadores ArchiCad vão ter este problema pela frente.

Carlos Pinto, arqtº

Anónimo disse...

Caro Carlos, o mais certo é estar a existir algum erro na leitura do DWF, se estás a trabalhar a 1/50 os leitores do DWF não repararam na escala de representação e estão a ler o desenho a 1/100, ou imprimes a 1/100, basta imprimires a 50% ou avisas que os desenhos estão a 1/50 para eles corrigirem a escala no processos de leitura do DWF

Miguel Krippahl disse...

Carlos

Eu sou um dos felizardos que não faz projectos para Lisboa.
Mas com a nova legislação do licenciamento, todos nós vamos ter esses problemas.
Para os que utilizam a plataforma Mac e não têm pelo menos um Windows instalado numa máquina (é provável que não haja ninguém nesta situação) a coisa é ainda mais grave, porque não é possível exportar directamente do Archicad em formato DWF nas condições exigidas pela Câmara - todo o projecto no mesmo ficheiro - e o aplicativo gratuito da Autodesk não funciona em ambiente Mac.
Por um lado, a exigência de os projectistas apresentarem num formato "propriety" como o DWF é ilegal, pois o estado ao fazê-lo priveligia uma marca sobre outras (sem por sequer "tipo ou equivalente").

Por outro, sei que a Graphisoft está alertada para este problema (aparentemente Portugal é o único país a nível mundial a exigir o DWF em exclusividade), e estará atrabalhar para o resolver.

A minha recomendação tem sido para que todos enviem um email à infor (infor arroba infor ponto pt), de modo a pressionar a Graphisoft a arranjar rápidamente uma solução de exportação.

Quanto ao teu problema específico, suspeito que pouco terá a haver com o output mas sim com a inabilidade de quem lê, e por isso suspeito também que o teu caso não será único.

Como disse, felizmente não projecto para Lisboa, pois não gostava nada de servir de cobaia num tipo de lei tão mal amanhada como esta.

Anónimo disse...

Continuando:
Existem printers de DWF,disponiveis para MAC. Não da Autodesk, mas de 3ºs.
Mesmo que a impressão saia em vários ficheiros a designreview permite agrupar as varias folhas no mesmo ficheiro. O DWF não é proprietario, até será mais livre que o PDF. O problema aqui referido tem a ver com a informação enviada não ter sido a 1/100 e os utilizadores estarem a medir com essa escala.

Miguel Krippahl disse...

O Archicad exporta também em DWF, mas um ficheiro para cada desenho.

Para juntá-los é preciso usar o Designreview, que, tanto quanto eu saiba, só funciona em ambiente Windows, logo, não é uma solução aceitável para um estado que se quer neutro.

O problema aqui referido faz parte de um problema mais vasto, que, no caso da exigência por parte da Câmara de Lisboa e futuramente por outras câmaras, se fundamenta em decisões que contrariam o princípio da imparcialidade a que o estado se encontra obrigado.

Anónimo disse...

Caros colegas:

Agradeço a vossa ajuda :)
Estou com uns problemas de exportação do meu projecto de licenciamento para DWF.
Utilizo o Archicad 10 em windows. Quando exporto em DWF tem as seguintes opções (ASCII, Binário, Binário Comprimido) mesmo não percebendo qual as diferenças...de várias tentativas suponho que deve ser o ultimo.
Até aqui vou-me orientando :)
O problemas é que praticamente nenhum DWF me abre no Autodesk Design Review 2009, e os que me abrem perderam informação de linhas, tramas etc....
Será que é excesso de informação? Uma vez que utilizo várias tramas, várias linhas, cores etc etc??
Ou alguma incompatibilidade do plug in do Archicad (dwf) com a instalação do Auto.Des.Rev2009?

Hugo, arq

Miguel Krippahl disse...

Caro Hugo

Não sendo espcialista na metéria (longe disso), eu tentaria o seguinte:

Exportar do ArchiCad em dwg ou dxf, e só depois abrir no ADR.

Dessa maneira, pode experimentar com os settings do Tradutor de Exportação do ArchiCad, até encontrar uma combinação que resulte no seu caso particular.

Se não resultar, contactar o importador do Archicad, www.infor.pt .

Anónimo disse...

Penso que posso ajudar...

As questões académicas primeiro:

1- O formato DWF não é proprietário. É um formato aberto, baseado em XML (DWFx) e pode ser lido e escrito recorrendo a aplicações totalmente gratuitas.
Foi criado pela Autodesk, mas todos os formatos foram criados por alguém (ex: PDF/Adobe).

2- É legal e obrigatória a sua utilização (Dec. Lei 60/2007).

3- Todas as empresas podem exportar DWF's dos seus programas com um esforço minimo de programação. A Graphisoft com a colaboração da Infor e da CML optou por permitir aos seus utilizadores a criação de ficheiros DWF segundo todas as regras que a CML preconiza (ArchiCAD 12).

Quanto à questão da Escala 1/50, a questão é que em DWF não há escalas. Estamos habituados ao conceito de escala devido ao uso do papel. O que a CML pede é que o ficheiro seja medível com 1 Unidade/1 metro.

O formato DWF é o formato que dá maiores garantias de segurança dos Direitos de Autor, não é editável, é leve, e baseado em standards abertos o que garante que esses ficheiros podem ser lidos daqui a 500 anos.

Além disso, suportam informação BIM e modelos 3D que são benvindos na CML.

Para o caso de necessitarem de ajuda directa, podem contactar-me através do email CAD@cm-lisboa.pt

Miguel Krippahl disse...

Caro Henrique Saias

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a sua preciosa colaboração neste modesto blog. Tenho enorme prazer em ser corrigido por quem sabe :)

Posto isto:

1-O DWF não é formato proprietário. Tem razão e eu estava enganado. No entanto, é desenvolvido pela Autodesk, que decide qual o rumo que toma, podendo, a qualquer altura, deixar de disponibilizar as especificações e as bibliotecas C++ a terceiros. Ou seja, está totalmente nas mãos da Autodesk o grau de abertura que este formato terá no futuro.

2a- O facto de ser exigido por Lei é que me causa uma certa surpresa.

Basta ler na wikipedia que "As of March 3rd 2008 Portuguese Law (DL 60/2007; P. 216-E/2008 #8) requires all information regarding Urban and Building licensing, in all Municipalities in Portugal, to be delivered and managed in PDF when written, DWF when drawn. This solution had already been adopted by the City of Lisbon (Portugal's Capitol) in 2007, making this town the first in the world to officially adopt DWF."

Ou seja, aparentemente a Câmara de Lisboa é a primeira do MUNDO a adoptar o formato de DWF como obrigatório, e presumo que a Lei nacional também seja pioneira ao nível mundial.

Um pouco estranho, num País europeu que reconhecidamente é dos mais atrasados ao nível das leis e práticas urbanísticas.

2b-Para além de que, ao obrigar os projectistas a utilizar um formato específico, sem alternativas (os famosos "tipo ou equivalente" que somos obrigados a pôr nos projectos de obras públicas) parece-me contrariar a Lei da imparcialidade. Venham os advogados e digam...

2c- Será aliás interessante ler cuidadosamente a página da CML dedicada a este tema: http://www.cm-lisboa.pt/index.php?id_categoria=64&id_item=12040 , designadamente no capítulo "Programas".

Aqui é afirmado que: "O “Design Review” suporta a devolução integral de anotações e outras alterações em Autodesk Revit e na família de produtos AutoCAD."

NÃO é feita qualquer menção que outros softwares podem produzir os ditos ficheiros.

No capítulo "Ligações Externas e Downloads" da mesma página há links directos para a Autodesk e para a Micrograf, de um modo que se aproxima muito de publicidade. Não é feito nenhum link para outros softwares.

2d- A aplicação gratuita Autodesk Design Review (TM) (até o nome faz publicidade) não é, conforme a CML afirma repetidamente, acessível a todos. Quem trabalha em ambiente MAC não tem acesso a este software. Ou seja, é obrigado a utilizar outro sistema operativo (com todos os custos a isso associados), sem hipótese de alternativa.

3- Fico contente por saber que o ArchiCad já permite exportar DWF do modo ESPECÍFICO que a CML exige, ou seja, todos os desenhos no mesmo ficheiro. As versões anteriores do ArchiCad já exportavam em DWF, mas apenas um desenho por ficheiro, que aparentemente a CML não aceita.

Para finalizar, a sua afirmação que "e baseado em standards abertos o que garante que esses ficheiros podem ser lidos daqui a 500 anos" contraria o facto de o formato DWF ser desenvolvido e estar nas mãos de uma empresa particular, com práticas monopolistas reconhecidas.

Anónimo disse...

Viva.
Sem ser meu propósito entrar em discussão, mas somente ajudar a clarificar ideias acerca deste assunto, acrescentaria uns pontos:

1- A Autodesk pode mudar o rumo do DWF. É verdade, e mudou-o recentemente. Alterou o seu plano de desenvolvimento para incluir as assinaturas digitais por recomendação da CML. (A CML é membro do DWF Executive Council por convite da Autodesk)

A verdade é que a Adobe pode mudar o rumo do PDF, a Microsoft o do Word, do Excel ou até mesmo a forma de compilar para Windows. Esta é uma realidade omnipresente e no caso do DWF nada tem de novo. É o mesmo de sempre.

2a- De facto a CML é a primeira no Mundo. Mas posso assegurar que outras estão a caminho. Sermos os primeiros é um motivo de orgulho.

2c- A página da CML está em actualização. Seja como fôr, os links para a página do Archicad só não está no ar porque a página da Infor especifica sobre o assunto está a ser criada.

Quanto ao Vector Works, estamos em conversações.

Mas estarão lá todos muito brevemente.

2d- É verdade que em MAC há apenas um visualizador. (http://www.macdwf.com/)
Essa questão está em estudo com a Autodesk. O Mundo não é perfeito. hehe

Quanto ao nome do ADR, o leitor de PDF's chama-se "Adobe Reader" (http://www.adobe.com/products/acrobat/readstep2.html), e não será por isso que a CML deixará de exigir as partes escritas em PDF.

3 (segunda parte)- Todos os formatos estão nas mãos de alguém! E 99,9% das vezes de empresas particulares. Nos nossos computadores devemos ter muito pouco ou nada que não dependa de empresas.

No entanto, quando uma empresa da dimensão da Autodesk entra por um caminho como este, mudar o rumo seria suicida.
Aliás, é nitido que o objectivo da Autodesk é tornar o DWF no standard definitivo na permuta de desenhos não editáveis.
Isso só por si representa um negócio gigantesco para as suas outras aplicações.

Além disso, passar a cobrar por algo que é já de facto open source como o DWF, é virtualmente impossível. Quando muito poderia criar outro formato concorrente.

Nem a CML enverdava por este caminho se não houvesse garantias objectivas como as que referi.

Termino agradecendo o seu interesse pela matéria e a possibilidade de expôr a nossa perspectiva. Não falando do interesse com que analisamos todos os comentários, mesmos os mais criticos. Tudo contribui para aperfeiçoar-mos a nossa abordagem do tema. Especialmente por sermos pioneiros.

Relembro que qualquer dúvida pode ser esclarecida directamente através do email CAD@cm-lisboa.pt

Cumprimentos.

Miguel Krippahl disse...

Caro Henrique Saias

Mais uma vez, agradeço muito o tempo e paciência que tem em esclarecer as nossas (minhas) dúvidas.

Julgo ser perceptível que a CML está atenta às consequências da decisão que tomou, e agrada-me muito ver que existe gente desse organismo que acompanha a opinião dos visados. Coisa rara em Portugal, e por isso mesmo mais surpreendente :)

Do que disse, fica demonstrado que as várias vertentes da equação foram bem estudadas, pelo que qualquer sugestão da minha parte poderá parecer ( e será porventura) um pouco ingénua. Não sou especialista da matéria, não gastei mais que uma ínfima fracção do vosso tempo a pensar nela.

Por outro lado, e visto que existe a atenção da vossa parte em ouvir os participantes, e principalmente, tendo em conta que a experiência de Lisboa por ser pioneira será porventura utilizada como bitola pelos restantes municípios do país, gostaria de deixar uma questão simples (ou pelo menos aparentemente simples):

Para evitar problemas futuros de monopólio potencial, incompatibilidade entre softwares, atraso de actualizações entre versãos, questões específicas de plataformas, não sería mais razoável que a CML permitisse entregar os projectos em mais do que um formato?

Um pouco como o "tipo ou equivalente" que o próprio Estado nos obriga a colocar nos projectos públicos.

Sem querer fazer uma lista exaustiva, parece-me que existem formatos igualmente planos (com menos informação) como o pdf e o svg, e formatos com mais informação como o ifc2x3, mas também os formatos nativos dos vários softwares BIM e CAD.

Assim, ficava nas mãos do projectista a escolha do formato que entendesse mais adequado (por exemplo, para mim, as questões do direito de autor são irrelevantes), e ficaria a cargo do Município a conversão para o formato que fosse mais conveniente para ele.

Parece-me mais justo e mais razoável, e correr-se-ía menos riscos.

Claro que implicaria mais trabalho para o Município, a conversão dos vários formatos para aquele que entende mais adequado, mas são vocês os primeiros a dizer que a conversão é simples e gratuita...

Até porque, não havendo cad standarts, a informação que os projectistas vão entregar, mesmo em formato dwf, terá sempre que ser trabalhada caso queira ser aproveitada.

Em suma. Parece-me, assim de relance, que a opção por apenas um formato será porventura mais confortável para a CML (transfere o esforço de conversão para os projectistas) mas menos imparcial, enquanto que o deixar alternativas de formatos sería mais oneroso para a CML (o principal interessado em possuir essa informação) mas mais consentâneo com os deveres de imparcialidade por parte do Estado.

Grato pela atenção

MK

Anónimo disse...

Estimado Miguel,

O seu último comentário é muito diferente dos anteriores. Note que enquanto nos anteriores se questionava aspectos específicos do projecto, neste último questiona as opções estratégicas.

As opções que referiu serão alvo de reflexão.

Entretanto, asseguro-lhe que:
- O que está em vigor foi profundamente analisado.
- O que foi implementado foi pensado, estudado e testado ao longo de quatro anos.
- A Indústria (Autodesk e Graphisoft) convergiram nesta solução.
- A outra parte da Indústria, os projectistas, tem recebido este sistema de uma forma fantástica. Mesmo os que têm mais trabalho a produzir os ficheiros neste formato por trabalharem com Revit ou ArchiCAD.
- Os beneficios deste sistema em transparência, segurança e qualidade da informação são extremamente importantes.
- Está a preparar-se a maior revolução desde que se começou a utilizar computadores em projecto: acabar com o papel.

Mesmo que não alteremos a abordagem, fique seguro de que o seu contributo é válido e é analisado.

Miguel Krippahl disse...

Caro Henrique

Em primeiro lugar, espero que não me interprete mal. Tenho todo o respeito pelo trabalho que estão a desenvolver, e, como antigo funcionário público de 12 anos, tenho uma boa ideia do tipo de resistências que foram necessárias ultrapassar para chegarem a este ponto.

Goste-se ou não, a opção pelo DWF será a que de futuro irá vigorar pelo País. Outras autarquias irão adoptar esse sistema.

Respeito o trabalho desenvolvido, e respeito o resultado.

Permita-me no entanto discordar quanto à sua última afirmação, de que esta revolução serve para acabar com o papel.

Servirá para acabar com o papel no seu formato físico, o que já não é pouco, mas, para além das árvores abatidas e do espaço de arquivo, não representa nenhuma alteração no sistema de trabalho dos gabinetes, entidades licenciadoras e constructores.

Não me parece que seja uma revolução, mas sim uma evolução natural do caminho trilhado pelo CAD nos últimos 20 anos. Emula outras áreas , como seja os documentos escritos (por exemplo, este post não gasta nenhuma árvore nem ocupa nenhum espaço físico).

Revolucionário será quando os municípios passarem a aceitar modelos em vez de desenhos, à semelhança do que já se faz em alguns sítios do planeta, como Singapura e Escócia.

Aí, não só será desnecessário imprimir desenhos como também de os produzir.Entrega-se o modelo (chamem-lhe BIM se quiserem) e as entidades licenciadoras farão a sua verificação, na maior parte dos casos automáticamente.

Essa é a revolução que irá mudar todo o processo de construção.

Anónimo disse...

Já agora agradecia um favor. Após ler o seu último comentário fui à procura das Câmaras que acetiam modelos BIM.

Falou na Escócia por isso fui procurar na NET.

Conforme pode constatar (http://www.edinburgh.gov.uk/internet/Attachments/Internet/Environment/Planning_and_buildings/Planning/Planning_applications/Planning_application_validation/Planning_Application_Validation_Guide.pdf) em Edimburgo o licenciamento é feito através de projectos em papel.

Se tiver informações concretas sobre situações reais de licenciamento em digital e ou com BIM agradecia que desse alguma referência para que eu possa estudar o exemplo.

Obrigado.

Anónimo disse...

O endereço completo:

"http://www.edinburgh.gov.uk/internet/Attachments/Internet/ Environment/Planning_and_buildings/Planning/ Planning_applications/Planning_application_validation/ Planning_Application_Validation_Guide.pdf"

Tem que tirar os espaços.

Miguel Krippahl disse...

A informação foi prestada no âmbito do workshop sobre BIM organizado em Lisboa em 2006 pelo OPET:
http://www.siweb.info/info/bim.swf

O link para o paper já lá não está, tanto quanto eu saiba porque estará para breve a publicação em papel de todas as intervenções.

Jeffrey Wix da empresa AEC3 foi responsável por essa apresentação, onde mencionou o trabalho na Escócia, entre outros:
http://www.aec3.com/

Singapura:
http://www.iai-international.org/IndustrySolutions/sgCORENET.html

Noruega:
http://www.iai-international.org/IndustrySolutions/norBSmart.html

Não consegui abrir o seu link :(

Anónimo disse...

Estimado,

Estive a analisar as referências e todas são de projectos, vários empresariais, outros de grupos.

Nenhum representa de facto um caso real de BIM substituindo o papel na licenciamento urbano.

O meu link abre apagando os espaços que lá introduzi.

Cumprimentos.

Miguel Krippahl disse...

Caro Henrique

O caso Corenet (Singapura):
http://www.corenet.gov.sg/

"CORENET e-Submission system (eSS) is a G2B (Government to Business) internet-based system that enables industry professionals to submit project related electronic plans and documents to regulatory authorities for approval within a secured environment."

O caso ByggSøk (Noruega):
http://www.byggsok.no/english/english.php
e
http://www.byggsok.no/english/ENGELSKFOLDER.pdf

"ByggSøk Building:
Building applications are registered via the Internet.
The applicant is guided through an application process customised to the matter concerned and receives assistance during the process.
Once all the information has been entered, the content is checked. If the application is complete it can be printed out on paper or submitted electronically to the local authority.
Applications will be more correct, saving both local authorities and the applicant time and money."

Ou estou a ver as coisas de uma maneira totalmente errada (não sería a primeira vez), ou ambos representam casos reais de licenciamento electrónico da construção.

Baseados não em linhas mas em modelos "inteligentes, para além da eliminação do papel.

Anónimo disse...

Obrigado pelas informações.
Vou estudar.

O modelo que já estou a projectar é para BIM em vez de plantas e alçados.

Com certeza poderei estudar estes casos. Mais uma vez obrigado.

Miguel Krippahl disse...

Caro Henrique

Vai haver um webinar em 16 de Dezembro sobre Automated Code Checking of BIMs in an e-Government Environmen
aqui:
http://management.cadalyst.com/cadman/Webinar-Automated-Code-Checking-of-BIMs-in-an-e-Go/Event/detail/557739

Anónimo disse...

Muito agradecido.
Assistirei.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Volto a comentar agora a questão da conversão dos desenhos ArchiCAD (mac) para DWF, verificando que o meu anterior comentário gerou um interessante diálogo sobre o assunto.

Mas antes quero dizer que lá consegui resolver o meu problema na CML, com a sempre disponível colaboração do eng. Henrique Saias, que aqui agradeço publicamente.

De qualquer modo não deixo de considerar abusiva por parte da CML tão repentina alteração uma vez que o mercado (todo o mercado e não só o dos utilizadores do Autocad e depois do ArchiCad) não teve tempo de se preparar para a mudança. Como sempre são os técnicos projectistas que pagam a factura.

O mais razoável seria ir introduzindo esta regra de forma gradual, depois de garantir uma adequada cobertura por parte das casas de software de arquitectura.

Eu, que só utilizo MAC e estou no ArchiCAD 11 (na altura estava no 6.5) tive de pedir emprestado um PC para conseguir satisfazer as exigências da CML, depois de correr meia dúzia de técnicos utilizadores de AutoCAD e nenhum conseguir resolver o problema.

Tive de converter o projecto da esc. 1/50 para 1/100, depois tive de salvar os vários desenhos de saída em DWG e finalmente, já no PC e com o aplicativo da AutoDesk fiz a conversão para DWF num único ficheiro.

Ficou feita a vontade da CML e da AutoDesk e eu fiquei sem vontade de aceitar qualquer outra encomenda em Lisboa...

Mas a vida não está fácil para os arquitectos e lá vou agora ter de passar por novo calvário, para uma nova encomenda que não posso recusar, claro está.

Terei então de abandonar a esc. 1/50 e usar a 1/100, porque o DWF não sabe ler à escala... o que no caso do trabalho em causa nem é um problema, uma vez que se trata duma legalização e não dum projecto novo para construir.

Depois lá terei de voltar a gravar em DWG e transportar os ficheiros para um PC, usar o aplicativo da AutoDesk para gravar DWF num único ficheiro...

Tudo isto por conta do "simplex"... e dum 1º lugar mundial da CML na construção da burocracia digital!

Passamos a ter a mesma burocracia em papel mas agora aumentada com a burocracia digital... de facto só em Portugal, meus caros colegas!

Há uns meses falava deste assunto com um colega da OA que teve a oportunidade de visitar os serviços de licenciamento urbanístico dum município no Brasil e ficou espantado por não existirem processos em papel a encher as salas e os arquivos o que o deixou deveras intrigado.

Explicaram-lhe depois que não era por falta de processos de construção mas porque estavam TODOS em arquivo digital e NÃO USAVAM PAPEL.

Não consta que tenham ganho nenhum 1º lugar na burocracia mundial...

Carlos Pinto, arqtº