Manifesto Anti-CAD
MANIFESTO ANTI-C.A.D. - ALMADA NEGREIROS (sabujamente adaptado por Miguel Krippahl)
Uma geração, que consente deixar-se representar por um C.A.D. é uma geração que nunca o foi! É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o C.A.D., morra! - B.I.M.!
Uma geração com um C.A.D. a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um C.A.D. à prôa é uma canoa em seco!
O C.A.D. é um cigano!
O C.A.D. é meio cigano!
O C.A.D. é habilidoso!
O C.A.D. veste-se mal!
O C.A.D. usa ceroulas de malha!
O C.A.D. especula e inócula os concubinos!
O C.A.D. é C.A.D.!
Morra o C.A.D., morra! - B.I.M.!
E o C.A.D. teve cláque! E o C.A.D. teve palmas! E o C.A.D. agradeceu!
O C.A.D. é um ciganão!
Não é preciso ir para o Rossio p'ra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se p'ra se ser salteador, basta escrever como o C.A.D.! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar côco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser C.A.D.!
Morra o C.A.D., morra! - B.I.M.!
O C.A.D. nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O C.A.D. é um autómato que deita p'ra fóra o que a gente já sabe que vai sair... mas é preciso deitar dinheiro!
O C.A.D. é um soneto d'elle-próprio!
O C.A.D. em génio nem chega a pólvora seca e em talento é B.I.M.-pam-pum!
O C.A.D. nú é horroroso!
O C.A.D. cheira mal da boca!
Morra o C.A.D., morra! - B.I.M.!
O C.A.D. é o escárneo da consciência! Se o C.A.D. é português eu quero ser espanhol!
O C.A.D. é a vergonha da intelectualidade portuguesa! O C.A.D. é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não córe quando diz admirar o C.A.D.!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tem dó do C.A.D.!
E ainda há quem duvide de que o C.A.D. não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
E fique sabendo o C.A.D. que se todos fossem como eu haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Morra o C.A.D., morra! - B.I.M.!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus!
O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o C.A.D.! Morra! - B.I.M.!